O SABER E O SENTIR
O Conhecimento Bíblico na Sociedade do Sentimentalismo
Texto 03 das “Reflexões Bíblicas e Doutrinárias Para a Atualidade”
A sociedade atual vive o período histórico que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, conhecido como “pós-modernidade”. A sociedade pós-moderna valoriza excessivamente o individualismo com seu sentimentalismo, hedonismo e pragmatismo. Na mentalidade pós-moderna, o que importa é o que cada pessoa sente e como cada um percebe a realidade conforme suas emoções e preferências. Esse quadro contrasta radicalmente com o ensino bíblico, que afirma que a Palavra de Deus é a Verdade absoluta e a autoridade final sobre todas as coisas e deve ser conhecida e acatada mediante a fé e a obediência. Enquanto o espírito pós-moderno exalta uma vida baseada nos sentimentos individuais, as Escrituras Sagradas pregam uma vida baseada na fé racional.
Por um lado, o espírito pós-moderno exalta o homem com sua individualidade e experiências emotivas; por outro lado, a Bíblia enaltece a autoridade bíblica, que deve ser acatada com fé e entendimento, visando a salvação por meio de Jesus Cristo. Na sociedade atual, as pessoas, instituições e culturas foram profundamente impactadas pelo “espírito” da pós-modernidade, especialmente no Ocidente. Os valores morais são relativizados. A verdade sobre a realidade é relativizada. Cada vez mais, tem imperado o sentimento e a percepção pessoal como critérios para a vida. Tal é a situação que os sentimentos pessoais passaram a ser o critério do que é tido como bom e aceitável. Mais do que isso, os sentimentos e percepções pessoais determinam a identidade, as escolhas, as relações, bem como as posições políticas, sociais, culturais, sociológicas e religiosas de cada um. Nesse contexto, são repetidos os mantras: “sinto, logo existo”, “siga a voz do seu coração”, “a minha verdade”, “o que importa é se sentir bem consigo mesmo”, “o importante é aceitar todas as formas de amor” etc. Assim, é propagada uma liberdade libertina para cada um experimentar e sentir o que quiser, como se não existissem quaisquer regras, limites ou consequências.
Infelizmente, muitos cristãos têm seguido o curso desse mundo aplicando as características pós-modernas de individualismo e sentimentalismo à vida eclesiástica e espiritual. São crentes que buscam uma espiritualidade baseada somente no sentimentalismo e em experiências místicas, sem qualquer base bíblica e doutrinária. São tidos como cristãos que anseiam por experiências religiosas extrabíblicas e que se amoldem aos seus gostos e preferências. À vista disso, não surpreende o crescimento desenfreado de multidões que seguem os palestrantes da “Teologia do coaching”, os proponentes da teologia neopentecostal, movimentos musicais com músicas de letras e ritmos terapêuticos, movimentos de “regressão espiritual” e os modismos e inovações dentro do pentecostalismo clássico (como “reteté”, “unção do riso” etc.).
Além disso, têm surgido até mesmo líderes eclesiásticos propondo reavaliar e revisar a Bíblia para que as doutrinas cristãs se adequem aos anseios pós-modernos de grupos minoritários e possibilitem experiências religiosas e sentimentais conforme a preferência de cada um.
As Escrituras ensinam de forma absoluta que a vida cristã e espiritual autêntica, mediante a fé em Cristo, tem como fonte somente as verdades bíblicas e doutrinárias. A Bíblia é a autoridade final e definitiva de Deus sobre a Verdade salvífica, de tal modo que a autêntica vida espiritual e salvífica deve ser conforme o padrão bíblico, segundo as sãs doutrinas (Jo 17.17; 1 Tm 1.8-11; 2 Tm 2.2; Tt 1.9-16). A Bíblia apresenta as verdades propositivas e objetivas de Deus revelada ao homem para sua salvação. Por isso, essas verdades doutrinárias exigem fé acompanhada de entendimento racional-intelectivo. Isso é a porta de entrada para que as verdades absolutas e imperativas da Bíblia impactem todas as áreas da vida daquele que crer para a vida eterna. Quanto mais conhecemos a Deus por meio da sua Palavra, mais nossas vidas são conformadas segundo a vontade de Deus, que “é boa, agradável e perfeita” (Rm 12.2).
As verdades recebidas pela fé e compreendidas racionalmente são agentes de transformação da vida segundo a vontade de Deus, afetando os pensamentos, os sentimentos, as decisões, os relacionamentos, as palavras etc. (Rm 12.1-2; 2 Tm 3.16-17). As absolutas verdades bíblicas devem ser buscadas com fé para serem compreendidas, conhecidas e obedecidas, até que impactem todas as áreas da vida com transformação e santidade vindas de Deus!
“Saber” faz parte do crescimento espiritual em Cristo. Como diz John Piper: “sem o ato de pensar, não há um meio de despertar e fortalecer a fé salvífica pelas Escrituras.” Mas não para por aí. O saber bíblico e doutrinário deve regulamentar toda a forma de viver, incluindo a obediência nos sentimentos cultivados e nas qualidades morais espiritualmente produzidas pelo Espírito Santo (Gl 5.16-25; Fp 2.1-5; 4.4-9; Cl 3.5-17). A vida cristã em tudo é equilibrada: as afeições ou sentimentos do cristão, à luz das Escrituras, estão intimamente relacionados ao conhecimento das Escrituras e suas doutrinas. A vida espiritual preconizada nas Escrituras associa o saber doutrinário com as expressões das verdades bíblicas nos sentimentos e qualidades morais. A fé envolve compreensão racional das verdades doutrinárias que serão expressas nas experiências pessoais, nos afetos, nas relações pessoais, enfim, em todo o modo de viver cristão. A vida cristã autêntica incorpora as verdades bíblicas no âmbito racional e emotivo do cristão. É somente no contexto de conhecimento e crescimento nas verdades bíblicas e doutrinárias que os valores espirituais, os sentimentos pessoais e as experiências espirituais são regulados segundo a vontade de Deus.
Leia e medite no texto paulino de Filipenses 4.4-8. Observe como o apóstolo Paulo associou a relação entre “saber/pensar” e “sentir/viver” as verdades bíblicas. Este texto bíblico diz:
“Não vivam preocupados com coisa alguma; em vez disso, orem a Deus pedindo aquilo de que precisam e agradecendo-lhe por tudo que Ele já fez. Então vocês experimentarão a paz de Deus, que excede todo entendimento e que guardará seu coração e sua mente em Cristo Jesus. Por fim, irmãos, quero lhes dizer só mais uma coisa. Concentrem-se em tudo que é verdadeiro, tudo que é nobre, tudo que é correto, tudo que é puro, tudo que é amável e tudo que é admirável. Pensem no que é excelente e digno de louvor” (Fp 4.6-8/NVT).
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
BAPTISTA, Douglas. Valores cristãos: enfrentando as questões morais de nosso tempo. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2018.
NOVA ALMEIDA ATUALIZADA. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.
NOVA VERSÃO TRANSFORMAÇÃO. Mundo Cristão, 2016.
PIPER, John. Pense: a vida da mente e o amor de Deus. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2013, p. 95.